Era a casa mais bonita do bairro.
Pelo menos era o que eu pensava quando era criança.Os muros eram revestidos de pedras São tomé, haviam dois portões pretos , metade fechado e a outra metade em grade. O portão social tinha uma caixa para correio. O engraçado é que este portão não era usado, usávamos o portão da garagem que vivia apenas encostado.Na entrada havia um caramanchão de alamandas amarelas, o chão vivia cheio de pétalas , como se fosse um tapete para receber minhas visitas.Era realmente bonito de se ver. Bem na frente da casa ficava um lago com chafariz .No centro , um enorme sapo verde de louça espirrava água da boca.Dizem que o sapo evoca sorte, evolução, humor e transformação. Diz-se que ao coaxar, o sapo coloca seu coração em sintonia com o céu, solicitando diretamente as dádivas desejadas.Talvez seja por isso que meus avós tenham sido tão felizes. Nas tardes de verão, eu sentava à beira do lago e sem que ninguém visse, colocava os dois pés dentro do lago. Acho que a idéia era de colocar peixes no lago, mas ele nunca foi habitado, a não ser pelos meus pés. A varanda tinha pilastras de mármore branco. Lembro-me do vovô recostado numa das pilastras lendo a Bíblia logo após o almoço.Ele gostava de fazer anotações dos versículos em um caderno espiral .Após a leitura, ele fazia a siesta. Acho que ele sabia a Bíblia de frente para trás.
A varanda era a parte da casa que eu mais gostava, era fresquinha, tinha belas cadeiras brancas com almofadas floridas, uma mesa com tampo de vidroe vasos de flores. As cadeiras eram bonitas, mas eu gostava mesmo era de deitar no chão.Deitava-me para observar e vigiar as formigas que subiam pelas paredes.Incansáveis, em fila indiana, percorriam toda a varanda, até a janela do quarto da vovó. No parapeito haviam vasos de gerânios coloridos.
Acho que as formigas escalavam a parede apenas para ver de perto as flores.
Muitas vezes adormeci enquanto observava a vida das formigas.
Nana Pereira
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