terça-feira, 6 de setembro de 2011
Antigo ritual
Muro cinzento coberto de musgos
dia nublado, garoa, frio.
Em bando, pássaros brancos
cortam o céu.
Por sobre o velho muro
em fila, formigas negras
carregam folhas.
Lentas, precisas, agourentas.
Sentinelas do portal talvez...
Lá dentro, implacável silêncio.
A vala preparada à espera.
Olhos úmidos, abraços
mãos apertadas.
Velhos amigos
que o tempo separou.
Em frente, em fila
seguem as formigas.
Impossível parar.
Metáforas da vida talvez...
Uma a uma, lentamente
assistem, sobre o muro frágil
ao antigo ritual das despedidas.
Lá dentro agora
soluços, prantos comedidos
preces, indagações, pesares.
E o meu amigo dorme
indiferente...
Ao frio, á garoa, aos pássaros
ao pranto, às preces e aos abraços.
Indiferente á dor e à vida
que já foi tão doída.
Seguem as formigas
por sobre o muro...
Em breve anoitece.
Amanhã
não estaremos mais aqui.
Por sobre o velho muro
uma a uma
seguirão as formigas...
Nydia Bonetti
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